sábado, 3 de outubro de 2009

MÁSCARA DE MULHER




 MÁSCARA DE MULHER

A bem da verdade,
não sou essa mulher fatal
que tu pensas que eu sou.

Aquelas histórias de sedução
foram todas inventadas,
e esse ar superior,
de quem sabe lidar com a vida,
é apenas autodefesa.

Aquelas frases filosóficas?
Foram ditas só para te impressionar,
pAra te passar essa ilusão de intelectual..

Na verdade eu ainda nem sei se acredito
nos valores que me ensinaram,
quanto mais em frases feitas e opiniões formadas!

Senta ai, vai!

Deixa eu tirar os sapatos,
desmanchar o penteado,
retirar a maquiagem.

Quero mostrar-te que,
assim de perto,
não sou tão bonita quanto pareço,
por isso uso todos esses artifícios.
E que no fundo tenho um medo terrível
de que tu me aches feia,
de que encontres em mim uma série de imperfeições.

Sabe,
não quero mais usar essa máscara de mulher inatingível,
de mulher forte com punhos de aço...

No íntimo,
sinto-me uma pequena ave indefesa,
leve demais para enfrentar o vento,
e que deseja ficar no aconchego do ninho
e ser ninada ate adormecer.

Olhe pra mim:
às vezes minha intimidade não tem brilho algum
e tu terás que me amar muito
para suportar essa minha impotência.

Deixa eu tirar o casaco,
tirar o cansaço.

Essa jornada dupla me deixa tão carente...

A convicção de independência afetiva?
É tudo balela!

Eu queria mesmo
era dividir a cama,
a mesa,
o banho.

Queria dividir os sentimentos,
os sonhos,
as ilusões,
um pedaço de torta,
uma xícara de café,
algum segredo.

Ah, eu tenho andado por ai.

Tenho sido tantas mulheres que não sou!
Quantas vezes me inventei
e ate me convenci da minha identidade.

Administrei minha liberdade.
Tomei aviões, vinho.

Troquei a lâmpada,
abri sozinha o zíper do vestido.

Decidi o meu destino com tanta segurança!

Mas não previ que,
na linha da minha vida,
estivesse demarcada uma paixão inesperada.

Agora,
cá estou eu,
  vinte e dois anos
e toda atrapalhada,
tentando um cruzar de pernas diferente,
um olhar mais grave,
um molhar de lábios sensual.

Mas não sei direito o que fazer para agradar.

Confesso que isso me cansa um pouco.

Queria mesmo era falar
de todos os meus medos
("Dos seus medos?", tu dirás,
como se eu nunca tivesse temido nada).

Queria te falar
das minhas marcas de infância,
dos animais que tive,
do meu primeiro dia de aula.

Queria falar dessas coisas mais elementares,
e te levar na casa da minha mãe,
te mostrar meu álbum de retrato
(eu, me equilibrando nos primeiros passos).

Ah, queria te mostrar minha primeira bicicleta,
com truques.
Pena que ela não exista mais.

Queria te mostrar as árvores que eu plantei
(como elas cresceram!),
e todas essas coisas
que são tão importantes pra mim
e tão insignificantes aos outros.

Tu querias falar alguma coisa?
Esta bem !

Antes, só mais uma coisinha:
estou morrendo de medo que tua saias
desta cena antes de mim;
que tu saias à francesa desta história,
e eu tenha que recolocar minha máscara
e me reinventar, outra vez

FONTES :
(outubro de 2006)

MENDONÇA, Silvia - Recanto das Letras - URL - http://recantodasletras.uol.com.br/poesiassurrealistas/267897 - 19/10/2006

MENDONÇA, Silvia - Brasil Poesias.ning - URL: brasilpoesias.ning..com/profile/SilviaMendonca - 27/04/2009

MENDONÇA, Silvia - Brasil Poesias.ning - URL: - http://brasilpoesias.ning.com/profiles/blogs/mascara-de-mulher -02/10/2009

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